Acordo da Vale com Fortescue tem repercussão positiva na China e entre analistas
Analistas do Itaú BBA disseram que o memorando de entendimento (MoU) entre Vale e Fortescue Metals Group é positivo para a mineradora brasileira e visto como uma situação “ganha-ganha (win-win)”. O acordo de blendagem e distribuição de minério na China ajudaria a garantir a demanda para a produção do projeto S11D, que deve entrar em operação no segundo semestre deste ano.
De acordo com o Itaú BBA, as mineradoras pretendem fazer um blend de minério com teor de aproximadamente 61,5% Fe, com produção de 80 milhões a 100 milhões de toneladas por ano. Entre 50% e 60% do minério seria fornecido pela Vale, segundo o banco. Esse novo produto, que pode chegar a mercado até o fim deste ano, competiria com o Pilbara Blend, da Rio Tinto.
O memorando de entendimento assinado pela Vale e FMG foi divulgado ontem (7) pelas mineradoras em comunicado ao mercado, conforme publicou o NMB.
Siderúrgicas e traders da China disseram que o acordo entre as mineradoras pode tornar a oferta mais atraente para as produtoras de aço, melhorando e adaptando a qualidade a custos mais baixos. “Não é fácil julgar o resultado, mas, no momento, eu não tenho motivos para ser contra”, disse Li Xinchuang, vice-secretário geral da Associação do Ferro e do Aço da China (Cisa, na sigla em inglês) e presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento da Indústria Metalúrgica da China.
A Vale produz um dos minérios com maior teor do mundo, mas, segundo especialistas, costuma reclamar que não recebe o prêmio justo pela qualidade do produto no mercado internacional. ‘“O problema da Vale, especialmente depois que a demanda estagnou, tem sido que os compradores chineses realmente não ligam para esse minério top de linha”, disse um trader à Reuters.
O objetivo das duas mineradoras é desenvolver um blend de minério de ferro especificamente preparado para satisfazer as necessidades de longo prazo dos consumidores chineses atuais e futuros. Esse blend com teor mais baixo poderia dar à Vale uma fatia de mercado valiosa em um mercado competitivo e estagnado, de acordo com especialistas.
“Normalmente nós compramos minério com os teores originais, mas se for barato [blend da Vale com FMG], nós vamos considerar comprá-lo”, afirmou Zhang Wuzong, presidente do conselho de administração da siderúrgica privada Shandong Shiheng Special Steel Group.
Os analistas do Itaú BBA também veem fatores positivos para a FMG com o memorando de entendimento, como redução em penalidades ao material de menor qualidade e maior flexibilidade, que pode levar a reservas maiores e vida útil mais longa para as minas.
A relação mais próxima entre Vale e Fortecue, maior e quarta maior produtoras de minério de ferro do mundo, pode racionalizar a capacidade do mercado, fator que sustentaria os preços da commodity no longo prazo, disse o banco brasileiro. De qualquer forma, “não vemos a Vale conduzindo tal transação no curto prazo dado seu foco de reduzir a dívida líquida para US$ 15 bilhões”, apontou o Itaú BBA.
“Isso significa que a oferta seria controlada por menos companhias e teria menor poder de negociação para as siderúrgicas”, diss eum trander sediado em Xangai que vendeu cargas da Vale. O vice-secretário da Cisa, Li, afirma que não será fácil controlar o excesso de oferta no mercado.