Coluna do Marcel Nogueira
Nem vou entrar no mérito de quem é o pai da criança. Nesse momento isso é muito pequeno, para não dizer cretino. Vou falar sim, de um morro localizado às margens da PA-160 e que tinha o prosaico apelido de Morro do Chapéu e de repente se transformou em Alto Bonito.
Com o perdão do trocadilho, digo-vos senhores, não há neste pedaço de chão, vista mais bonita do que a do Alto Bonito. E com o perdão da redundância, lá em cima, parece que o céu fica cada vez mais perto do espiral de ruas sinuosas e bem cuidadas que aos poucos vão se descortinando para a apresentação em grande estilo dos charmosos prédios multicoloridos. No alto, bem no alto, além de uma insuspeitada estrutura de áreas de lazer, posto de saúde etc, ver-se a grande Rio de Águas Rasas aos seus pés, como que a prestar-lhe homenagens. Imagina este lugar durante a noite, recebendo a brisa suave que vem das montanhas e dando boas vindas a um céu salpicado de estrelas. Realmente o filho é bonito à beça.
O que se vê hoje em dia nem de longe se assemelha ao amontoado de barracos de madeira, que compunha uma das paisagens mais deprimentes que se tem notícia. Lembro que num dia qualquer de 2008 (não sei precisar a data exata) acordei com a informação de que estava acontecendo o maior quebra-pau lá pras bandas do Morro. Peguei máquina fotográfica, caneta e papel e sai em disparada, chegando a tempo de registrar um veículo da prefeitura sendo incinerado pelos manifestantes que naquele momento começavam a erguer os primeiros barracos de madeira no local. Deu polícia, deu porrada, mas, contra todos os prognósticos, contra o senso comum de que o local era inadequado para moradia, os caras foram ficando. Deve-se dizer que naquela época o aluguel em Parauapebas era uma imoralidade e uma família pobre e sem grandes perspectivas salariais jamais conseguiria fazer frente aos absurdos cobrados pelos senhorios que pretendiam ficar ricos com meia dúzia de kitnets.
Durante muito tempo o Morro do Chapéu foi o ícone do processo de favelização acelerada da cidade, uma espécie de cartão-postal ao avesso em plena PA-160. Como disse, isso era antes do Alto Bonito, bem no pretérito. Hoje a gente tem uma nova perspectiva, não só social, mas estética. Vem mais por aí. Ao todos serão 2.400 apartamentos, o que beneficiará milhares de famílias.
Só resta a torcida para que essa coisa construída com tanto esmero não seja alvo de uma especulação imobiliária rasteira e fora de hora. Que esse cartão de visitas possa ser preservado em bom estado. Seria uma lástima se acontecesse o contrário.