A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, avalia que os preços do seu principal produto devem ter alguma recuperação, ficando acima de 70 dólares por tonelada no segundo trimestre e na maior parte do ano, com a saída de mais produtores de alto custo do mercado.
“Uma mudança de patamar muito forte não esperamos, mas pode estar na casa iniciada por sete a partir do segundo trimestre”, afirmou nesta terça-feira o presidente-executivo da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista à Reuters.
“Eu acho que a tendência no ano, na maior parte, é ficar na casa dos sete.”
O preço do minério na China, maior importador global da matéria-prima, está oscilando perto do menor nível desde 2009, com um aumento da oferta de grandes mineradoras e um crescimento menos intenso da demanda no gigante asiático. Somente em 2014 os preços caíram pela metade.
Nesta terça-feira, o preço à vista ficou em 62,20 dólares por tonelada, segundo o Steel Index.
O cenário de preços em patamares menores em relação a anos anteriores, que já tirou muitos produtores menos eficientes do mercado, não levará a empresa a realizar baixas contábeis, de acordo com o executivo.
Ferreira destacou que a Vale, uma das produtoras de menores custos do mundo, atua em uma indústria de longo prazo e poderia ser precipitado qualquer medida neste sentido, sem que os preços tenham se estabilizado.
Para enfrentar o cenário, entretanto, a Vale prepara novos desinvestimentos.
“Nós estamos avaliando todas as alternativas, eu sei que alguma coisa vai acontecer em março, mas eu sei também que outras coisas vão acontecer no segundo semestre…”, disse Ferreira.
Apesar de ter evitado entrar em detalhes, o executivo adiantou que um dos desinvestimentos previstos para 2015 é a venda de navios, no modelo realizado com as chinesas Cosco e Shandong Shipping Corporation.
Pelo modelo, a Vale vende o navio juntamente com um acordo de afretamento.
A mineradora conta atualmente com uma frota de 34 mega navios do tipo Valemax, sendo que 15 são de sua propriedade.
METAIS BÁSICOS
Ferreira descartou neste momento a realização de uma oferta pública inicial (IPO) de parte da divisão de metais básicos. A medida foi citada pela empresa como uma possibilidade no fim de dezembro, mas para o executivo os preços atuais não estão favoráveis para uma transação.
“Como não temos preço hoje que signifique uma condição que esteja sendo satisfeita, nós não estamos interessados nisso, seja para qualquer tipo de transação”, disse. “Não vamos vender na bacia das almas, esquece, descarte essa possibilidade.”
Ele negou ainda a possibilidade de a Vale vender toda a divisão de níquel. Segundo reportagens neste ano, o ex-presidente-executivo da Xstrata Mick Davis estaria considerando fazer uma oferta pelos negócios de níquel da Vale.
“Nós nunca consideramos a hipótese da venda da divisão inteira e faz pelo menos dois anos que não vejo nosso amigo Mick Davis”, frisou o executivo.
COBRE E FERTILIZANTES
O momento, segundo Ferreira, também não é propício para aquisições, devido à falta de consenso para os preços das commodities. Mas o executivo adiantou que futuramente a empresa buscará ativos de classe mundial de cobre e fertilizantes.
“Depois do S11D Serra Sul de Carajás, nós vamos estar confirmadíssimos na posição de número um de minério de ferro. Vamos estar confirmadíssimos, depois desses projetos todos, como número um de níquel. Acabamos de implantar um projeto de classe mundial de carvão. Então eu acho que nosso foco vai ficar muito no cobre e fertilizantes”, afirmou.
CONVITES PELO GOVERNO
Ferreira teve seu nome citado em diversas reportagens como uma possibilidade para comandar o Ministério da Fazenda e a Petrobras.
Embora não tenha negado os convites, durante a entrevista, Ferreira evitou comentar o assunto.
“Eu prefiro não tocar nesse assunto, conversas privadas que possam haver entre Murilo e a senhora presidenta da República pertencem a ela, não me pertencem”, afirmou.
“Se as coisas são como vocês dizem, que fui considerado, eu não sei, para essas duas posições, eu fico muito honrado de ter sido considerado.”