Era por volta de 10h30 da manhã desta sexta-feira (26), e, em frente à porta de acesso à agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Parauapebas, trabalhadores ateavam fogo no mundo a fim de chamar a atenção da sociedade para sua condição: desempregados e desesperados. Havia pais de família sérios, assim como havia aqueles que gostam de fazer volume, criar fofoca e causar tumulto.
A pauta deles era uma só: “contratação já”, a ser feita pelas minguadas empresas que ainda acampam em Parauapebas, mirando obras que pipocam nos quatro cantos do vizinho município de Canaã dos Carajás, que segue fazendo zoada por causa das obras de implantação do projeto S11D e do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará, assinadas pela mineradora multinacional Vale.
A confusão em frente à porta do Sine foi controlada, o tráfego de veículos foi liberado, os trabalhadores foram embora sem qualquer esperança.
Às 15 horas de hoje, veio uma bomba para Parauapebas, desta vez jogada em forma de estatística pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), uma espécie de balanço mensal do mercado de trabalho, referente ao mês de janeiro deste ano. A “Capital do Minério” teve o pior janeiro da história em termos de criação de empregos com carteira assinada.
O município abriu 1.169 postos de trabalho, mas demitiu 1.728 trabalhadores. O saldo disso, totalmente vermelho, foi de 559 postos a menos para as costas da sociedade, um recorde negativo e que coloca Parauapebas como o terceiro pior para se empregar, atrás de Altamira, que fechou 784 vagas por conta da finalização das obras civis da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e de Belém, que perdeu 817 postos, a maior parte no comércio. É o pior resultado de Parauapebas desde sua emancipação, em 1988.
Vale ressaltar que os dados do Caged não contabilizam as demissões de servidores públicos, a exemplo dos temporários. Considerados estes, o número de desempregados nos municípios é ainda maior. Há servidores públicos temporários atuando nos municípios paraenses nos três poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário) e nas esferas municipal, estadual e federal. Os distratos deles não entram no balanço mensal do Ministério do Trabalho e Emprego.
SETORES
A maioria dos trabalhadores demitidos em Parauapebas no mês de janeiro estava na construção civil: 367. Depois desse setor, o comércio mandou embora 147 funcionários. A situação é tão crítica que o município viu, em apenas um ano, sua força de trabalho celetista (com carteira assinada) minguar de 48.500 trabalhadores em janeiro de 2015 para 41.276 em janeiro deste ano. É a maior diáspora no mercado de trabalho de um município do Pará – nem Belém, muito maior que Parauapebas, conseguiu proporcionalmente tal “proeza” no período.
Aos trabalhadores, um recado: os cargos líderes de demissões no município, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, são servente de obras, vendedor de loja, motorista de caminhão, auxiliar de escritório, operador de caixa, repositor de mercadorias, faxineiro, pedreiro e carpinteiro. Em cargos como o de motorista, o município perdeu renda mensal de R$ 1.777, o que, ao final das contas, leva crise ao comércio porque, sem emprego, trabalhador algum vai gastar na praça.
Os cargos que mais empregam são de ajustador mecânico, que paga salário mínimo na carteira, e zelador de prédio, com ganhos de R$ 1.156.
No segundo mais rico município paraense, a situação do mercado de trabalho está tão caótica que até a profissão de ministro de culto religioso registrou demissão. E como os próprios ministros da unção dizem em seus encontros com os fiéis, “só Deus na causa”. O desemprego viralizou praticamente na mesma velocidade em que o Zika.
REGIÃO
Marabá demite mais de 300 e Canaã contrata quase 300
A hecatombe, que ceifou vários postos de trabalho em Parauapebas, também fez suas vítimas em Marabá, o principal município do Sudeste Paraense. Lá, foram eliminados do mercado 333 trabalhadores, 199 dos quais no comércio. O setores de serviços, com 50 vítimas, e construção civil, com 49, vêm em seguida.
Em Marabá, é praticamente impossível encontrar trabalho nos cargos de vendedor de loja, operador de caixa, servente de obras, assistente administrativo, atendente de loja, repositor de mercadorias e supervisor administrativo, neste último caso uma perda de R$ 1.995 em salário. Por outro lado, contratam-se ajustador mecânico, vigilante e zelador de prédios.
Os salários pagos em carteira assinada em Marabá, entre contratados e demitidos, incrivelmente superou os de Parauapebas. Nenhuma das ocupações com melhores ou piores estoques paga apenas salário mínimo.
Alheio às demissões em Parauapebas (seu município genitor) e em Marabá (seu município avô), Canaã dos Carajás continua bombando: por lá, 269 trabalhadores conseguiram arranjar emprego em janeiro, 256 deles no setor da construção civil, que atualmente torna a “Terra Prometida” o maior canteiro de obras urbanas do interior do Pará.
Em Canaã, diferentemente dos outros lugares, há vagas para as ocupações de servente de obras, montador de máquinas, carpinteiro, eletricista da área eletroeletrônica, soldador, eletricista de instalações prediais, montador de estrutura metálica, conservador de via no segmento de trilhos, pedreiro e mestre de obras. O salário para quem consegue se empregar é 50% superior ao de Parauapebas. Um mestre de obras, por exemplo, cuja escolaridade é de apenas ensino fundamental completo, está assinando carteira em Canaã com R$ 4.082,96, muito mais que o salário médio de quem tem nível superior em Parauapebas, que rasteja para chegar aos R$ 4 mil.
Mas cuidado: a maior parte das vagas de emprego em Canaã é temporária. Com o final das obras civis de S11D e do ramal ferroviário, o município vizinho deverá seguir o mesmo rumo do mercado de trabalho dos demais: demissões.
No Pará, além de Canaã dos Carajás, os municípios de Curionópolis (por causa da retomada do projeto Serra Leste, que tem movimentado o setor de serviços e o comércio), Itaituba e Santarém (ambos no oeste paraense, que vivem a esperança de se tornarem as fronteiras de escoamento no Pará e no Brasil) são as atuais referências na geração de empregos com carteira assinada. Verdadeiras ilhas de prosperidade em meio a um oceano de desastres.
O resultado do Caged aponta que o mês passado foi o pior janeiro do Brasil desde 2009. Cerca de 100 mil trabalhadores sob regime celetista foram demitidos. No Pará, o saldo negativo foi de 4.470 postos, e apenas o setor mineral contratou mais que demitiu.
Fonte: André Santos