O presidente da Vale SA, Murilo Ferreira, está sendo sondado para ser o presidente do Conselho de Administração da atormentada Petrobras, disseram fontes com conhecimento das discussões.
Representantes do governo sondaram Ferreira, 61, para substituir o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como presidente do conselho, segundo três fontes que pediram anonimato porque as negociações não são públicas.
A próxima reunião do conselho da Petrobras, na qual um novo líder poderia ser confirmado, será no dia 23 de março.
Ferreira seria o primeiro executivo desde 2003, pelo menos, a liderar o conselho da produtora de petróleo controlada pelo Estado, substituindo um nomeado político conhecido por sua obediência à presidente Dilma Rousseff.
Após escolher Aldemir Bendine, apoiado pelo partido de Dilma, para o lugar de Maria das Graças Foster na presidência, no mês passado, o governo reconhece a importância de optar por um nome amigável ao mercado para a liderança do conselho, disse uma das fontes.
“Ele é um grande executivo brasileiro, tem competência, credibilidade, é um nome muito bom para a Petrobras”, disse o consultor David Zylbersztajn, ex-regulador do setor de petróleo que trabalhou com Ferreira no início dos anos 2000, em entrevista por telefone, do Rio. “Conhecendo Murilo, sei que ele não é manipulado”, disse.
As assessorias de imprensa da Vale e da Petrobras preferiram não comentar a possibilidade de Ferreira unir-se ao conselho da petroleira.
Petrobras disse ontem que não foi informada pelo controlador da intenção de alterar a composição do conselho, segundo nota de esclarecimento à BM&FBovespa em relação às notícias que circularam na imprensa ao longo do dia
Exercício de equilíbrio
Bem conceituado na comunidade empresarial, Ferreira se absteve de criticar o governo quando outros líderes industriais contestaram as políticas que contribuíram para uma inflação acima da meta e para um baixo crescimento no primeiro mandato de Dilma.
O nome de Ferreira circulou na imprensa local como possível substituto de Mantega como ministro da Fazenda depois que Dilma se reelegeu em outubro, e novamente no mês passado, como candidato a assumir a presidência da Petrobras.
O próximo presidente do Conselho de Administração enfrentará pedidos dos investidores para tornar a Petrobras mais independente de Dilma e de seu partido depois que a empresa perdeu US$ 270 bilhões em valor de mercado em quatro anos em meio a acusações de interferência do governo e corrupção. O governo controla a produtora de petróleo com a maioria das ações com direito a voto.
A tarefa mais urgente do conselho é conseguir os resultados auditados da Petrobras para o terceiro trimestre após quantificar os prejuízos provenientes de um esquema de subornos com décadas de duração.
Como presidente da Vale, o desafio de Ferreira é liderar a mineradora durante uma desaceleração no ciclo das commodities, no qual o preço global do minério de ferro caiu 47 por cento em 2014 e estendeu os prejuízos neste ano. Ferreira assumiu o comando da Vale em maio de 2011.
Zylbersztajn, um crítico das atuais políticas petrolíferas do governo, trabalhou com Ferreira como consultor da Alumínio Brasileiro SA e diz que seu bom relacionamento com o governo não significa que ele seria fácil de manipular.
“O fato de ele ter afinidade com o controlador não tira a sua independência”, disse Zylbersztajn.
Fonte: Revista EXAME