“Trazer música instrumental para a praça tem um valor inestimável. Então eu acho que o termo é democratizar. Democratizar essa variedade de música é bastante importante. Por isso que com chuva ou sem chuva, nós estamos aqui”. Essa é a avaliação da professora Terezinha Cavalcante sobre o ‘Orquestra Vai à Praça’. O projeto de circulação cultural é da TheRoque Produções, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, visa difundir a música instrumental brasileira a partir dos concertos realizados pela Carajazz Marabá Orquestra.
O encerramento da turnê ocorreu em Marabá, cidade de origem do projeto. A noite foi marcada por muita animação e alegria, com a participação marcante do público, mesmo sob a chuva que caiu durante parte do concerto. O evento contou com a participação especial da cantora paraense Nenzinha, que apresentou a canção ‘Lança a Rede Pescador’, acompanhada pela orquestra.
Além de Marabá, os concertos percorreram os municípios de São Pedro da Água Branca, Açailândia, no Maranhão, e Parauapebas, no Pará. Por onde passou, a Carajazz Marabá Orquestra foi bem recebida pelo público, como afirma a professora de Parauapebas, Natália Farnesi. “Musica e cultura precisam estar acessíveis para todo mundo. Uma das coisas mais maravilhosas é isso aqui, a galera curtindo, vibrando, de forma inclusiva, democrática e acessível”, diz a educadora.
Acessibilidade
Intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) tornou a iniciativa ainda mais democrática e acessível. A proposta foi proporcionar uma experiência mais completa para os espectadores com deficiência auditiva. “No momento que a orquestra está tocando, o som chega por intermédio das vibrações, com o intérprete de Libras, as falas contextualizando as músicas ao longo do concerto tomam mais sentido”, afirmou o pesquisador na área de musicalização para pessoas surdas e regente da Carajazz Marabá Orquestra, Walkimar Guedes. Integra também o show da orquestra uma apresentação do sinal em libras de todos os instrumentos musicais.
Em Açailândia, Mateus Batista, professor e surdo que estava prestigiando a apresentação, destacou esse diferencial. “É muito importante ter uma orquestra, pra variar. Eu gosto muito desses eventos. Trazem a comunidade, dão visibilidade. E ter uma intérprete de Libras é muito importante, a gente se sente incluído”.
Ruy Souza, de São Pedro da Água Branca, participou pela primeira vez de um concerto e contou como se sentiu durante a apresentação. “Presenciar o Orquestra Vai à Praça foi uma experiência incrível, de verdade! O que mais curti foi como a música instrumental e a cultura popular se misturaram, criando uma atmosfera muito legal que contagiou a todos que estavam presentes. Os músicos da orquestra tocaram com uma alegria contagiante”, destacou Ruy.
Da nossa terra
Com um repertório que incluiu clássicos da Música Popular Brasileira e músicas de artistas locais, a orquestra cativou quem estava assistindo. Uma das principais características da apresentação foi o envolvimento com o público, desde a escolha do repertório, que contou também com composições de artistas regionais como os maranhenses Papete e João do Vale, e os paraenses Nenzinha Silva e Paulo André. Os arranjos são dos músicos Walkimar Guedes, Ney Conceição, Ademir Júnior, Richard Eddy e Arturo Sandoval.
No intuito de aproximar o público, a entrada e o encerramento de todos os concertos aconteceram junto da plateia. “Do povo nós viemos e para o povo nós voltaremos. Sempre estamos junto com o povo. Queremos quebrar essa ideia de que a plateia está separada da Orquestra. Sem a plateia, o concerto não funciona, ela faz parte do concerto”, enfatizou Walkimar Guedes, regente da Carajazz Marabá Orquestra.
Essa foi a primeira vez que Carajazz Marabá Orquestra saiu em turnê e isso permitiu que o grupo levasse seu trabalho para um público mais amplo, com realização de apresentações inclusive em praça pública. “O principal objetivo foi alcançar pessoas de todas as camadas sociais e proporcionar uma experiência cultural com e para a comunidade”, detalhou o produtor cultural e gestor do projeto, Jackson Gouveia.
Momento pedagógico
Além do concerto, o Orquestra vai à Praça também levou formação e informação, com a realização de uma palestra e uma oficina voltada para o público a partir de 10 anos. A palestra contou com o tema “Contribuições de Paulo Moura e César Camargo Mariano para a música instrumental brasileira contemporânea” e foi ministrada pelo sociólogo e músico Fabiano Rodrigues em escolas dos municípios que receberam o projeto
Outro momento importante foi a oficina de musicalização para pessoas surdas ministrada pelo músico e professor Walkimar Guedes. A atividade utilizou recursos visuais e vibrotáteis para explorar o universo dos sons, permitindo que os participantes compreendessem melhor o processo musical e participassem ativamente.
Cilmara Bonfim é surda, participou da oficina em São Pedro da Água Branca e destacou a importância de iniciativas que tenham essa concepção dos surdos como capazes. “Eu me senti muito feliz com a oportunidade de poder aprender mais profundamente sobre música e sobre os instrumentos musicais. Foi um momento de inclusão”, destacou.
Além disso, essa ação visou promover uma compreensão mais profunda das necessidades e potenciais das pessoas surdas, com impactos além do momento educativo, já que a medida que os participantes ouvintes interagem e aprendem junto com as pessoas surdas, elas podem levar essa empatia e compreensão para outras áreas de suas vidas, promovendo um ambiente mais inclusivo em geral.
A primeira edição do projeto Orquestra Vai à Praça é uma realização da TheRoque Produções com patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.
(Texto de Janaina Amorim)
Fotos: Bill Waishington