Não convide para um café da tarde os números de eleitorado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os da estimativa de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): eles não se batem. Em Canaã dos Carajás, que atualmente ocupa o posto de segundo principal minerador do país, tendo movimentado R$ 3,04 bilhões em minérios de janeiro a maio deste ano, o TSE e o IBGE garantiram ao município a curiosa condição de lugar mais desproporcional do Brasil: há mais eleitores que habitantes.
Associação Paraense de Engenheiros de Minas (Assopem) levantou a informação a partir do Estudo Técnico lançado esta semana pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), mas já era de conhecimento de quase todo mundo que Canaã há anos tem mais eleitores que moradores.
De acordo com o TSE, o eleitorado de Canaã é de 39.884 pessoas enquanto a população oficial estimada pelo IBGE para 2017 é de 36.027 habitantes. Os números de um e outro órgãos rendem uma diferença de 3.857 eleitores a mais que a população inteira local.
A própria Prefeitura de Canaã dos Carajás não acredita nos números do IBGE. Em 2016, o executivo local apontou que em 2014 a população municipal era de 52.862 moradores, por meio de um estudo que encomendou intitulado “Diagnóstico Socioeconômico do Município de Canaã dos Carajás”. E não é improvável que seja verdade, haja vista 2014 ter sido um ano intenso em Canaã, em razão da implantação do megaprojeto de ferro S11D, da multinacional Vale.
CANAÃ INCHOU
As obras de implantação do projeto S11D promoveram uma verdadeira marcha de trabalhadores a Canaã dos Carajás, cujo primeiro nome remete, em linguagem bíblica, à “Terra Prometida”. No pico das obras desse que é considerado o maior projeto do globo da indústria mineral, cerca de 30 mil trabalhadores estavam na ativa por lá. Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho (MTb), para os anos de 2014 e 2015 demonstram a força desproporcional desse município.
Mas o S11D não foi — não só — a razão desse crescimento populacional de Canaã, o qual o IBGE sempre insiste em não ver nos dias atuais. Entre os censos de 2000 e 2010, Canaã foi o 8º município que mais cresceu populacionalmente, de acordo com o instituto. E a razão foi a implantação do projeto de cobre Sossego, que começou a operar praticamente no meio da década passada. Em 2010, ficou registrado que a taxa de crescimento demográfico de Canaã era de 9,36%, bem maior que a do vizinho Parauapebas, que ostentou 7,96% no período e tirou o 16º lugar nacional entre os então 5.565 municípios — hoje são 5.570.
De 2004 para cá, vale ressaltar, a receita da Prefeitura de Canaã dos Carajás multiplicou-se por dez, passando de cerca de R$ 30 milhões a R$ 263 milhões, conforme previsão para este ano. Este ano, de janeiro a abril, a prefeitura local arrecadou R$ 90.131.154,05 em receitas correntes. É praticamente o mesmo valor arrecadado durante o ano inteiro de 2010. Isso mostra a bala na agulha da “Terra Prometida”, que se dá ao luxo de gastar R$ 37.088.208,33 com folha de pessoal em quatro meses (hoje, em apenas um quadrimestre, a folha é equivalente à receita inteira da prefeitura em 2005).
Canaã, com todas as suas contradições, acelera os passos na produção mineral e será decisivo em fazer o Pará se tornar o estado mais importante para a mineração nacional, no raiar da próxima década. E, nos próximos anos, a perspectiva é assumir a liderança de maior produtor de minério de ferro de alto teor do mundo. (Assopem)