O ministro da Saúde, Nelson Teich, disse na quarta-feira (22) que é impossível que o país sobreviva a mais de um ano parado e defendeu a construção de um “plano de saída” do isolamento social junto com estados e municípios.
O ministro citou o conceito de que 70% da população precisa entrar em contato com o vírus para que a comunidade adquira imunidade, explicando que “talvez a gente nem chegue a esse número antes da vacina”, relatou.
Ele também negou que haja um crescimento explosivo de casos. “Hoje temos 43 mil casos [45.700] de coronavírus no Brasil. Se a gente imaginar que podemos ter uma margem de erro grande, digamos de cem vezes em um exemplo hipotético, estamos falando em 4 milhões de pessoas. Hoje somos 212 milhões. Então fora da Covid tem 208 milhões de pessoas que continuam com suas doenças e seus problemas e precisam ter isso tratado”, defendeu.
“O que representa hoje 4 milhões de pessoas num país como esse? É 2% da população. Se existe o conceito de que você tem que ter 70% da população em contato com a doença para que seja imune, e a vacina vai levar um ano, um ano e meio, e se não tem um crescimento explosivo da doença, o que não está acontecendo no Brasil, é impossível um país sobreviver um ano, um ano e meio parado.”
Para ele, o afastamento “é uma medida natural e lógica na largada, mas não pode não estar acompanhado de um programa de saída.”
O ministro defendeu que o trabalho da pasta seja focado em três eixos: informação, infraestrutura e uma diretriz para que estados e municípios criem políticas em relação ao isolamento e distanciamento.
Teich também confirmou que deve nomear o general Eduardo Pazuello ao cargo de secretário-executivo da pasta. Segundo ele, o general deve ajudar sobretudo na questão de infraestrutura na rede de saúde. Pazuello é conhecido por ter participado da operação Acolhida para recepção de refugiados venezuelanos.
“Por que estou fazendo isso? Nesses poucos dias que estou aqui, a impressão que eu tenho é que a gente precisa ser muito mais eficiente do que a gente é hoje. A gente está falando de logística, de compras, de distribuição, e ele é uma pessoa muito experiente nisso.”
Segundo Teich, a falta de informações hoje sobre a doença dificulta tomar decisões.
Ele demonstrou preocupação com impactos sobre outras doenças, como atendimentos de câncer e doenças cardiovasculares, cujos pacientes não estariam procurando hospitais em meio à crise, afirma.
Também voltou a dizer que impactos na economia podem gerar reflexos na saúde. “Se tivermos desemprego e perda significativa na saúde suplementar, isso vai sobrecarregar mais o SUS”, disse.
De acordo com Teich, hospitais têm sofrido queda de até 40% no atendimento de outros casos que não o coronavírus.
“Isso vai fazer com que tenham dificuldade ainda maior em sobreviver. Quanto mais segurar, mais difícil vai ser para eles”, disse.
“Qual o problema prático disso: vai ter demanda reprimida gigante ao longo desse tempo. E se hospitais estiverem despreparados, quando a gente controlar a Covid, vamos ter outra crise, que é a não capacidade de atender uma demanda reprimida do não Covid.”
A suspensão de atendimentos eletivos, no entanto, vinha sido recomendada como forma de evitar uma sobrecarga devido ao coronavírus. O atendimento é mantido para casos urgentes.
Teich defendeu ainda a criação de um banco de dados com outros ministérios. A ideia é que o banco tenha dados ligados a hospitais, informa, além de números da doença.
O ministro também afirmou que vai entregar em uma semana uma nova diretriz para estados e municípios que queiram adotar formas mais brandas de isolamento ou mesmo abandoná-las.
Sob a gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta, a pasta publicou um boletim com recomendações para estados e municípios que quisessem fazer essa transição, passando do distanciamento social ampliado para o seletivo -no qual apenas grupos de risco ficam isolados.
O texto indicava a possibilidade de transição para unidades da federação cujos casos confirmados da Covid-19 não impactassem em mais de 50% a capacidade de saúde instalada.
Teich informou que a nova diretriz será mais “customizada” para as diferentes regiões do país. “O Brasil é absolutamente gigante e heterogêneo. Não tem como uma diretriz dessas não ser customizada para diferentes partes do país, para os diferentes estados e diferentes regiões”, afirmou.
“Aí você vai computar qual é o número de casos novos que devem surgir, somado aos casos anteriores, qual é a estrutura que você tem hoje de leitos, quantos por cento estão ocupados, como que está a sua parte de recursos humanos, o que que se tem que planejar”, completou.
Teich também criticou os modelos matemáticos que trouxeram estimativas de óbitos, que não se concretizaram.
“Se você pegar o número que mais assustou, que foi o do Imperial College, em que eles falavam que 1,150 milhão de pessoas morreriam no Brasil, mas com algum tipo de cuidado específico, cairia para 44 mil. Isso é impossível. Não tem medida que caia de 1,150 milhão para 44 mil”, disse.
Essa foi a primeira coletiva de imprensa com a participação do novo ministro, que vem evitando contato com a imprensa. Ele disse ter intenção de rever o modelo de divulgação e suspendeu coletiva com técnicos da pasta até a próxima semana. Os encontros ocorriam desde o fim de janeiro. A coletiva foi acompanhada pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Prestes a abandonar sua política de distanciamento social, o governo do Distrito Federal estabeleceu um prazo de dez dias para a divulgação de um cronograma para a reabertura das escolas.
De acordo com Ibaneis, o governo pretende iniciar a retomada do sistema educacional através dos alunos do ensino médio, por serem mais velhos e portanto mais aptos a seguirem as recomendações de higiene.
O governador afirmou que discutiu com sua equipe de secretários a possibilidade de reabrir inicialmente as escolas cívico-militares, seguindo a um pedido do presidente Jair Bolsonaro, com quem se reuniu na segunda-feira. No entanto, argumentou, a experiência de outros países indicou ser mais favorável iniciar com um público específico.
“Mas reunidos com técnico tanto da saúde como da educação, e observando outros modelos que já foram bem sucedidos no mundo, como a Alemanha […] a abertura pelas idades mais avançadas, no caso o ensino médio, tem se mostrado efetivo, porque são crianças mais maduras, que aderem mais facilmente aos objetivos de higienização, utilização de máscaras”, afirmou.
O Distrito Federal foi o primeiro estado a adotar uma política de distanciamento mais rígida, com o fechamento completo do comércio, restaurantes, escolas, além de outras atividades econômicas.
Aos poucos, o governo começou a liberar algumas atividades. Está prevista para 3 de maio a abertura de todo o comércio. No entanto, ainda não havia uma previsão em relação à retomada das aulas, tanto do ensino público como particular.