É preciso ouvir a Ciência, proteger os povos e evitar o ponto de não-retorno das florestas. Está foi a mensagem firmada após três dias de programação dos Diálogos Amazônicos, no Hangar Convenções & Feiras da Amazônia, que contou com cerca de 27 mil participantes inscritos entre sexta-feira (4) e domingo (6). As conclusões desses encontros serão apresentadas na Cúpula da Amazônia, que começa na terça, dia 8, e vai até a quarta-feira, dia 9.
O governador Helder Barbalho participou de diferentes de atividades nos três dias de evento, e falou sobre as expectativas de que os Diálogos Amazônicos resultem em propostas fortes que sinalizem ao planeta a responsabilidade ambiental da região ao tempo em que faz o chamamento para soluções que, de forma responsável, cuidem das pessoas.
“A Amazônia é protagonista das soluções da agenda climática e das urgências climáticas. Compreendo que estamos vivendo um divisor de águas em que a região assume o protagonismo fazendo um chamamento às populações locais e ao mundo para que todos enxerguem a Amazônia sob o olhar da floresta mas também convocando a todos para as soluções que garantam com que a sustentabilidade ambiental esteja de mãos dadas com a sustentabilidade social”, explicou.
O chefe do Executivo estadual apontou ainda a implementação do Plano de Bioeconomia do Pará, iniciativa pioneira no país, durante o evento “Diálogos sobre Bioeconomia Amazônica e Transformação Rural Inclusiva”, realizado neste domingo, 6.
“Durante um ano, fizemos diversas audiências públicas, um chamamento dos envolvidos e mapeamos 43 tipos de produtos que dialogam diretamente de forma sustentável com a floresta. Estes 43 tipos de produtos permitiram a projeção de alavancagem de 120 bilhões de dólares em negócios para a exportação produzidos pela floresta tropical do Pará que, claramente, se apresentam como nova vocação econômica e social para a nossa região, uma vocação que é central para a geração de empregos verdes e iniciativas que dialoguem com a oportunidade de ter uma floresta viva e preservada, mas não às custas do sofrimento das comunidades tradicionais”, detalhou o governador.
CAR 2.0 – Ainda neste domingo, no Hangar, o Governo do Pará deu mais um salto inédito, desta vez em direção à transformação digital de serviços da área ambiental, com o lançamento de sistemas que vão permitir o aprimoramento da gestão territorial e do patrimônio verde, com o lançamento do Cadastro Ambiental Rural Automatizado – CAR 2.0, uma iniciativa inédita no país que alia tecnologia e inovação no processo de cadastro e regularização de propriedades rurais, e ainda, o Módulo de Inteligência Territorial (MIT), plataforma de monitoramento dos compromissos assumidos no Plano Estadual Amazônia Agora, e uma nova versão do ‘Selo Verde’, que passa a contar com um mapa em alta resolução para aprimorar a gestão territorial e a certificação de produtores que atuam com a pecuária.
Na ocasião, Helder validou, de uma só vez, 43,3 mil CAR, sem pendências, de produtores rurais de diversos municípios paraenses.
Superação – A organização do evento esperava algo em torno de quatro mil inscritos, expectativa superada em torno de 700%. O último dia de atividades iniciou com uma plenária sobre “Mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias” que, dentre os que tiveram vez de fala, estava a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
“Existe uma vantagem e desvantagem em fechar um conjunto de falas como essa: a desvantagem é porque o repertório, o compromisso, a competência, o conhecimento dos que te antecedem vão, de certa forma, esvaziando, no bom sentido, o seu discurso. E a vantagem é ser suportada que você nem pensou em dizer mas que foram ditas e que foram muito interessantes”, declarou ela.
A seguir, a ministra falou sobre a necessidade de se ter consciência do significado de toda a programação dos Diálogos Amazônicos. “Foram 14 anos sem convocação da Cúpula dos Países do Tratado de Cooperação Amazônica. Era fundamental que nesse momento de mudança do clima, perda de biodiversidade e grandes desafios para os países amazônicos que a Amazônica se juntasse pelo seu povo e seus governos para fazer todos esses enfrentamentos”, reforçou.
Povos indígenas – Também no domingo a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participou da plenária “Diálogo sobre Bioeconomia Amazônica e Transformação Rural Inclusiva”.
“Nós, povos indígenas, somos 5% da população mundial e protegemos 82% da biodiversidade viva no mundo. Isso significa que somos os guardiões da vida e do futuro. Para nós, pensar tudo isso é pensar também não só a partir dos recursos naturais que precisam ser protegidos, mas a libertação dos territórios como um todo, que preserve as culturas, a biodiversidade, que garanta a vida para as atuais e futuras gerações”, destacou.
Igualdade social – Durante a plenária “Amazônias negras: racismo ambiental, povos e comunidades tradicionais”, a ministra da Igualdade Social, Anielle Franco, anunciou a criação do comitê de monitoramento da Amazônia Negra e Combate ao Racismo Ambiental neste domingo.
A instância será criada em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e terá a finalidade de propor medidas de enfrentamento ao Racismo Ambiental na Amazônia Legal, para reduzir o racismo ambiental na região.
“Colocar nossos povos tradicionais, comunidades quilombolas, povos de terreiro no protagonismo da proteção da Amazônia é dever não só do governo brasileiro, mas do mundo”, argumentou Anielle.
Ciência – Já a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou a criação do IPCC da Amazônia, que reunirá informações científicas sobre clima e biodiversidade. Inspirada no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a iniciativa terá a participação de especialistas e pesquisadores para a consolidação das evidências científicas relacionadas à Amazônia.