Os estoques em nível recorde de minério de ferro nos portos da China poderiam produzir aço suficiente para 107 milhões de carros, mais que três vezes as vendas anuais de veículos no país, ou o suficiente para alcançar a lua se os automóveis fossem empilhados uns sobre os outro.
Com o mercado de aço na China mostrando sinais de fadiga após uma recuperação no final do ano passado, os enormes estoques de mais de 150 milhões de toneladas de minério de ferro podem se tornar uma ameaça para os preços da commodity, segundo operadores e analistas de mercado.
Com uma resiliente demanda por aço e ações de combate à poluição, que incluíram o fechamento de usinas, o volume de minério de ferro importado nos maiores portos da China atingiu 154,43 milhões de toneladas em 19 de janeiro, alta de quase 30 por cento ao longo de 12 meses e o maior nível desde 2004, quando a consultoria SteelHome começou a compilar os dados.
“Há minério de ferro demais nos portos, e isso vai pressionar os preços para baixo”, disse um operador de minério de ferro em Xangai. “Se o volume continuar a crescer, operadores serão forçados a vender mais barato”.
Cerca de 37 por cento dos estoques nos portos pertencem a operadores de mercado, enquanto o restante é de usinas, segundo a SteelHome. Ambos os grupos elevaram as importações ao longo de 2017, conforme os preços domésticos do aço subiram quase 50 por cento, em parte devido a cortes de produção para combater a poluição.
Os fechamentos na campanha anti-poluição ajudaram também a elevar a demanda por minério de ferro importado de melhor qualidade, principalmente o minério de Carajás e do S11D, no Brasil, que conseguem produzir mais com menos emissões.
O Barclays estimou que a produção de aço anual da China deve cair ante o recorde do ano passado, de 831,7 milhões de toneladas, para 820 milhões de toneladas, citando uma desaceleração no setor de imóveis e uma mudança para uma economia focada em “qualidade” ao invés de “quantidade”.
As importações de minério de ferro também tiveram um recorde em 2017, de 1,075 bilhão de toneladas, com Austrália e Brasil como principais fornecedores, com quase 80 por cento do total. As importações do Irã e da Índia, no entanto, cresceram em dois dígitos.
Segundo operadores, muito do material estocado nos portos é de minério de ferro de baixa qualidade, pouco requisitado no mercado.
O minério de ferro fechou a 76,75 dólares a tonelada na sexta-feira, queda de 3 por cento ante um pico de 4 meses e meio tocado no início de janeiro.