Entre as acusações feitas pela vereadora Eliene Soares (PT) à educação na tarde da última terça-feira (3), durante a polêmica sessão na Câmara Municipal de Parauapebas, uma frase chamou a atenção de todos e causou insatisfação em vários educadores da rede estadual. É que a parlamentar, que é professora, alfinetou que “o ensino médio de Parauapebas é como o resto da educação do Estado: os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem”.
Três professores, que pediram reserva de identidade, procuraram o Jornal Tablóide para falar sobre o assunto.
A professora de português observou que, “antes de dar pitaco inconsequente e, assim, ofender toda a comunidade escolar da rede estadual em Parauapebas, a vereadora Eliene Soares deveria se apropriar de conhecimentos acerca daquilo a que tece críticas destrutivas”.
A colega pedagoga aconselhou que a vereadora, que também é educadora, leia sobre práticas educativas antes de emitir juízo de valor, desqualificando alunos e professores. “O comentário agressivo da nobre parlamentar conduz à alusão à obra ‘Por Uma Pedagogia do Conflito’, lançada em 2009 pelo teórico Boaventura de Souza Santos”. Segundo a pedagoga, Boaventura ensina, de maneira coerente, que toda crítica lançada à educação requer experiência vivida e se ampare numa racionalidade que busque respostas para as condições do presente. “Então, além de a vereadora não estar vivenciando na pele o novo tempo da rede estadual em Parauapebas, faltam-lhe propostas concretas para revolucionar o que ela classifica como fingimento e, bem assim, ajudar o Governo do Estado na caminhada por uma educação cada vez mais forte, sólida e inclusiva”, rebateu.
NÚMEROS
A reportagem do Tablóide foi atrás de números sobre a situação do ensino médio em Parauapebas e encontrou dados positivos, que, de fato, contrariam a fala da vereadora. Os professores da rede estadual estão cada vez mais empenhados em ver seu trabalho se transformar em retorno cultural e desenvolvimento econômico.
Parauapebas avança 2015 como um dos cinco municípios paraenses com mais elevada taxa de conclusão de ensino médio do Estado e tem o 3º mais alto percentual de população jovem, acima de 18 anos, com ensino médio completo: 38,6% da população está apta a entrar na universidade, taxa que é menor apenas que a de Belém (49,4%) e Ananindeua (44%), e está acima da média nacional (37,9%).
Há 15 anos, somente 16,6% dos parauapebenses tinham ensino médio completo, e de lá para cá, a Capital do Minério foi a que mais avançou no Pará, tanto em termos de matrículas na rede estadual quanto em escolarização de seus jovens, de maneira que a média de anos de estudo da população subiu de 8,11 anos para 9,26 anos.
Para o professor de Matemática que procurou o jornal dizendo-se ofendido pelo comentário da vereadora Eliene, esses são avanços percentuais, de domínio público, que precisam ser divulgados. “Temos dificuldade, sim. Ainda há, em todo lugar, aquele aluno que nada quer na sala de aula porque acha a escola entediante, desnecessária. Mas não é esse exemplo que repassamos. Nossas conquistas são muito maiores que nossas decepções”, revela.
Nos últimos cinco anos, as escolas da rede estadual de Parauapebas exportaram às universidades públicas de todo o país cerca de 400 aprovados nos mais diversos tipos de seleção, entre os 3.500 estudantes que concluíram o ensino médio no período. Os cursos de graduação existentes em Parauapebas, por exemplo, têm 60% de suas cadeiras ocupadas por ex-alunos da rede estadual local. São estudantes como Maicon Rafael Teixeira, oriundo de escola pública e que passou para universidades de Parauapebas e Belém, e optou por estudar na capital. “Nunca fingi estudar senão não teria passado em vestibular concorrido, como é o de Engenharia Mecânica da capital”.
Em 2013 e 2014, as escolas de ensino médio Marluce Massariol (Bairro União) e Eduardo Angelim (Rio Verde) bateram recorde de filhos aprovados em vestibular e vêm disputando a liderança de quem aprova mais. Nessa competição interescolar, ganham os professores, cujo esforço solidifica o nome da escola; e, sobretudo, ganham os alunos, que, por meio da qualidade do ensino que recebem mais uma dose de esforço próprio, fazem seu nome lá fora.
“Alunos que fingem aprender de professores que fingem ensinar jamais seriam competentes para ingressar em cursos de Medicina, Direito, Engenharias, Enfermagem, Biomedicina, Veterinária, Agronomia, Licenciaturas, entre outros. Da rede estadual de Parauapebas já saíram cidadãos que hoje são médicos, advogados, engenheiros, professores de universidades”, diz a professora de português, destacando que tem alunos seus estudando nas Universidades Federal do Pará (UFPA), Federal Rural da Amazônia (Ufra), do Estado do Pará (Uepa), Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Federal do Maranhão (UFMA), Federal do Tocantins (UFT) e até na prestigiada Universidade de São Paulo (USP).
Texto: Da Redação do Jornal Tablóide