O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu nesta terça-feira (19) Rodolfo Landim e Alexandre Campello, mandatários de Flamengo e Vasco, para um almoço no Palácio do Planalto.
A reunião não estava prevista na agenda oficial de Bolsonaro. Até o final da tarde, a Secretaria Especial de Comunicação Social do governo federal não havia informado o motivo do encontro.
Nele, Bolsonaro voltou a manifestar o desejo de ver a retomada do futebol no país, que já ultrapassou a marca de 17 mil mortos pela Covid-19 e ainda não atingiu o pico da doença.
Ele disse a Landim e Campello que isso seria importante para a sociedade e serviria como um passo para a volta à normalidade em meio à pandemia.
No fim de abril, o presidente já havia afirmado que essa decisão não cabe ao governo federal, mas que tanto o Ministério da Saúde quanto a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicariam recomendações para que os jogos voltem a ocorrer, desde que disputados sem a presença de torcida.
Na sequência, o ministério fez várias ressalvas a um guia médico que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) submeteu para análise da pasta com um plano de retomada.
Por causa do coronavírus, o esporte está paralisado no Brasil desde a primeira quinzena de março. Nenhuma federação estadual nem a CBF trabalham neste momento com datas para o retorno de competições.
Poucos países do mundo reiniciaram suas atividades esportivas até agora. No último fim de semana, a Alemanha voltou a ter jogos da Bundesliga, mas sem a presença de público nas partidas e sob um rígido protocolo sanitário.
O país registrou 8.176 mortes por Covid-19 até agora, mas já passou pelo pico do contágio e aos poucos implementa medidas de relaxamento da quarentena.
Outros países europeus liberaram treinamentos nas últimas semanas com a expectativa de a bola voltar a rolar em junho. Todos eles já passaram pelo pico da doença.
Durante o encontro, os dois cartolas se mostraram simpáticos à ideia de retomada do futebol, mas não se comprometeram com uma data para reiniciar os treinamentos. Seus rivais Fluminense e Botafogo têm se posicionado de forma contrária à volta das atividades neste momento.
O Flamengo já realizou uma bateria de exames em que 38 dos 293 testados (13%) entre atletas, membros da comissão técnica, outros funcionários e seus familiares tiveram resultados positivos para o novo coronavírus.
O Vasco montou um protocolo a ser seguido pelos seus funcionários para a retomada de treinos, mas ainda não o colocou em prática.
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), vetou o reinício das atividades nos clubes. Segundo ele, podem se reapresentar apenas os atletas que necessitam de sessões de fisioterapia.
Bolsonaro citou a possibilidade de os times do Rio treinarem em Brasília. Flamengo e Vasco poderiam utilizar as instalações do estádio Mané Garrincha. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, já havia feito essa oferta, assim como a empresa que administra o estádio.
Embora propensos a aceitá-las, os clubes têm receio da reação de seus elencos e torcedores. Segundo o Globoesporte.com, o Flamengo estuda pagar a hospedagem de familiares dos atletas, se a ideia vingar.
Também estiveram presentes na reunião, em que não foram respeitadas orientações de distanciamento social e uso de máscara, o chefe do departamento médico do Flamengo, Márcio Tannure, e o diretor de marketing Aleksander Santos.
Filho de Jair Bolsonaro, o senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também acompanhou o encontro.
Landim presenteou o presidente da República com o novo modelo da camisa reserva do Flamengo. Bolsonaro o vestiu e posou para fotos. Palmeirense, ele já foi fotografado com diversos uniformes de times brasileiros, até mesmo modelos piratas.
A assessoria de imprensa do Flamengo disse que o clube não vai comentar nada sobre a reunião. O Vasco também não emitiu nenhum comunicado oficial até a publicação deste texto. A reportagem entrou em contato com Campello e Landim, mas eles não retornaram às ligações.
Ao Globoesporte.com, o ex-presidente e membro do comitê gestor do futebol do Botafogo, Carlos Montenegro, cricitou a atitude dos rivais.
“Os clubes têm que ser grandes dentro e fora de campo. É uma atitude de time pequenininho. Eles podem se tornar homicidas forçando uma barra dessas”, disse. “Não temos o elenco do Flamengo, mas aqui não tem irresponsável. A síntese é a seguinte: isso é uma covardia com os jogadores, a comissão técnica e os familiares dessas pessoas todas.”