Impulsionada pela extração de minério de ferro, Parauapebas é a cidade média que mais cresce no país. O desafio é achar uma saída para quando as minas secarem — algo previsto para dentro de duas décadas.
São Paulo – Encravada no sopé da Serra dos Carajás, a maior reserva de minério de ferro do mundo, Parauapebas exibe vários indicadores que retratam seu dinamismo econômico. Primeiro, é a cidade acima de 100 000 habitantes que mais cresceu no Brasil nos últimos anos — seu produto interno bruto se expandiu 144% de 2008 a 2011, ante a média de 10% do país.
Segundo, seu PIBjá supera o da capital paraense, Belém, e é maior também do que o de estados como Tocantins, Roraima, Acre e Amapá. Terceiro, é a cidade campeã em exportações no Brasil — em 2013, os minérios embarcados em Parauapebas geraram 10 bilhões de dólares em divisas, ante 8,6 bilhões exportados por São Paulo, a vice-campeã.
Com números exuberantes como esses, Parauapebas é a cidade com os melhores indicadores de desenvolvimento econômico do país, de acordo com o levantamento da consultoria Urban Systems para EXAME. No ranking das melhores cidades para investir em negócios, fica atrás apenas de Vitória, no Espírito Santo.
A pujança de Parauapebas se assenta em uma única atividade econômica, a exploração das jazidas de Carajás pela companhia Vale. Em 2013, ela extraiu 105 milhões de toneladas de minério de ferro em Parauapebas, um terço de sua produção dessa matéria-prima no país.
No ano passado, o negócio de mineração movimentou 28 bilhões de reais em Parauapebas e rendeu à cidade 450 milhões em compensação financeira — quase um terço do total de royalties de mineração distribuídos a 2 451 municípios brasileiros em 2013.
O dinheiro gerado pelo minério movimenta a economia e atrai vários empreendimentos, como o Unique Shopping Parauapebas, o primeiro centro de compras da cidade, inaugurado há três anos.
“Nosso foco é investir em cidades carentes de centros comerciais voltados para a classe média em ascensão e com grande potencial de consumo”, diz Ricardo Baptista, diretor do grupo Partage, que administra o Unique. “Parauapebas tem o perfil exato que queremos.”
O rápido crescimento da cidade, no entanto, veio acompanhado de vários problemas, como a falta de moradia — 22 000 famílias vivem em habitações precárias. Outro problema é o saneamento básico. A maior parte do esgoto corre a céu aberto — o índice de coleta é de apenas 13%, bem abaixo da média brasileira, de 48%, que também está muito longe do ideal.
Com uma taxa anual de 60,5 homicídios por 100 000 habitantes, Parauapebas está entre as 100 cidades mais violentas do país. Todos esses problemas indicam que os milionários royalties arrecadados com a mineração ainda não conseguiram mudar a realidade da maioria dos 177 000 moradores da cidade.
Mas o principal problema de Parauapebas está por ocorrer. O minério de ferro é um recurso natural finito — e o fim pode estar mais próximo do que se imagina. De acordo com as mais recentes projeções da Vale, as três minas hoje exploradas em Parauapebas devem se esgotar até 2035.
Segundo Paulo Horta, diretor da área de minérios ferrosos da Vale, esse prognóstico não é definitivo. “A vida útil das minas muda conforme a tecnologia empregada”, afirma. “Temos exemplos de outras minas, como em Itabira, Minas Gerais, onde o uso de novas tecnologias está permitindo o aproveitamento de reservas de minério com menor teor de ferro, que antes era inviável.”
Para garantir sua produção em Carajás, a Vale planeja explorar minas localizadas nos municípios vizinhos de Canaã dos Carajás e Curionópolis. Com isso, cedo ou tarde, tudo indica que Parauapebas deixará de ser a maior produtora de minério de ferro do país. Nesse cenário, o desafio é buscar novas atividades que compensem a perda de receita com a mineração.
Entre as ideias em estudo estão a criação de um polo industrial de transformação mineral e o estímulo ao ecoturismo. Mas os projetos ainda não saíram do papel. “Com o empobrecimento das jazidas, Parauapebas precisa se reinventar”, diz Maria Amélia Enriquez, secretária de Indústria, Comércio e Mineração do Pará. O tempo — e a riqueza — está se esgotando.
Fonte: Revista EXAME