O desmatamento no Cerrado no ano passado atingiu o nível mais alto desde 2015, o que levou cientistas a fazerem alertas, nesta segunda-feira, sobre a situação savana mais rica em espécies do mundo e um grande sumidouro de carbono que ajuda a enfrentar a mudança climática.
O Cerrado é conhecido como “floresta invertida” pelas raízes profundas de suas plantas, que perfuram o solo para sobreviver a secas e incêndios sazonais. A destruição dessas árvores, gramíneas e outras plantas no Cerrado é uma das principais fontes das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, embora a área seja muito menos densamente florestada do que a floresta amazônica, com quem faz fronteira.
O desmatamento e outras formas de retirada de vegetação nativa no Cerrado aumentaram 8%, para 8.531 quilômetros quadrados, nos 12 meses até julho, o período oficial do Brasil para medir o desmatamento anual, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“É extremamente preocupante”, disse Mercedes Bustamante, professora de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da Academia Brasileira de Ciências. Ela criticou o governo do presidente Bolsonaro pela falta de transparência na divulgação dos dados do desmatamento, que foram informados na véspera do Ano Novo.
A destruição é particularmente preocupante, segundo os cientistas, ao considerar que cerca de metade do Cerrado foi destruída desde a década de 1970, principalmente para a agricultura e pecuária.
“Você está transformando milhares de quilômetros quadrados por ano”, disse Manuel Ferreira, geógrafo da Universidade Federal de Goiás.
Depois de recuar do pico no início dos anos 2000, o desmatamento no Cerrado tem aumentado novamente desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse em 2019.
Bustamante e outros cientistas culpam Bolsonaro por encorajar o desmatamento com sua retórica a favor da agropecuária mesmo em terras protegidas e por reverter a fiscalização ambiental.
A Presidência da República não respondeu de imediato a um pedido de comentário. Bolsonaro já defendeu sua política como forma de tirar o interior do país da pobreza e destacou que o Brasil preservou muito mais seu território do que a Europa ou os Estados Unidos.
“O desmatamento é o indicador mais nu e cru da péssima política ambiental que esse governo tem tido”, disse Ane Alencar, diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), uma organização sem fins lucrativos.