Recebeu alta do Hospital Municipal de Parauapebas o adolescente de 14 anos que foi sequestrado e torturado em uma fazenda na região do Alto Bonito, município de Marabá, mas localizado mais próximo do município onde ele foi socorrido e internado. O paradeiro do jovem está guardado a sete chaves pela família e pelo Conselho Tutelar, isso porque teme-se pela vida do adolescente. De acordo com a mãe dele, a vítima só não foi morta porque um conhecido interferiu na sessão de espancamento e o salvou.
Segundo o vereador Ivanaldo Braz, na quarta (13) o Conselho Tutelar de Parauapebas procurou os vereadores pedindo apoio sobre o caso. “Ligamos para o (delegado) Gabriel e ele disse que era outra jurisdição. Isso deixou a gente frustrada, assim como já tinha deixado o Conselho Tutelar”, afirma.
De acordo com ele, o hospital onde o menino foi internado acionou o Conselho Tutelar que encaminhou o jovem para exame no Instituto Médico Legal (IML) e este, por sua vez, relatou o caso à Delegacia de Polícia Civil. “Quando chegou na delegacia esta informou que vai encaminhar para Marabá, mas temos convênio com Marabá que dá direito a educação, saúde, infraestrutura e automaticamente a segurança pública, temos uma guarnição da PM que fica a oito quilômetros de onde aconteceu, no Alto Bonito, acredito que não teria problema algum a polícia daqui agir, trazer pra cá o procedimento e se depois fosse o caso mandar para Marabá”, declarou.
Ele se refere a um Termo de Cooperação Técnica assinado entre os dois municípios em benefício de 30 mil habitantes da região do Contestado, que é distrito de Marabá, mas está localizado mais próximo de Parauapebas. Pelo acordo, Parauapebas garante diversos atendimentos aos moradores da região. “Queremos pedir a proteção do estado para essa criança e para a família dela, uma vez que o cara que espanca uma criança pode fazer até mais e o estado tem obrigação de proteger essa pessoa”, encerrou.
Na manhã desta quinta (14) um grupo de vereadores esteve na 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, em Parauapebas, cobrando que seja feita justiça para o caso. “Como cidadã, como mãe de um menino, a gente tem que sensibilizar as pessoas que não é com violência que a gente resolve os problemas. Existe legislação, existem procedimentos e a gente não quer que ninguém entre na área de atuação de ninguém, mas a gente quer que a justiça seja feita porque não se pode pegar um jovem de 14 anos e espancar, poderia ser com o seu filho, com o filho do delegado, de quem for”, declarou a vereadora Joelma Leite.
Ela também acredita que a proximidade da vítima com a sede da Polícia Civil em Parauapebas deveria ser levada em consideração. “É jurisdição de Marabá? Beleza, vamos começar os procedimentos por aqui, estamos mais perto, por que não é a função da polícia proteger o cidadão, inibir a violência? Ou a gente tá errado? Ou a função é passar o problema para o outro? A gente quer que o agressor seja punido e, talvez, se o jovem tiver culpa em um delito que ocorreu que seja punido de acordo com a legislação e não sendo espancado da forma como foi”.
Os vereadores foram recebidos pelo diretor da unidade, delegado Gabriel Henrique, que não falou com a imprensa. De acordo com o edil Zacarias Marques, a comissão foi informada de que foi instaurado um procedimento policial e este encaminhado à Superintendência Regional de Polícia Civil, sediada em Marabá. “Ele falou que a Polícia Civil está trabalhando da forma mais correta e ágil e que está encaminhando todo o inquérito para que dê continuidade e identifique o culpado”.
O Correio de Carajás entrou em contato nesta manhã com o superintendente regional, Thiago Carneiro. Ele confirmou ter sido informado sobre o caso na noite de ontem e que o procedimento deverá chegar às suas mãos até meio-dia de hoje, quando determinará as providências cabíveis e as comunicará à Reportagem.
RELEMBRE O CASO
A mãe da vítima concedeu entrevista ao Portal na última segunda (11) quando relatou em detalhes o ocorrido. Em resumo, ela diz que uma pessoa esteve em sua casa e solicitou ajuda do adolescente para vacinação de gado. Foi levado então para uma fazenda da região e torturado.
De acordo com ela, um fazendeiro local acusou o jovem de ter cometido assalto na propriedade, o que a vítima nega. “Ele diz que não fez nada, ou seja, pagou ainda por algo que não fez, injustamente, o que causa ainda mais revolta perante a sociedade, nos conselheiros tutelares e à família”, comentou a conselheira tutelar Marcia Barros.
A mãe detalhou que o filho foi salvo por um homem conhecido da família que escutou os gritos do jovem e reconheceu a voz. A vítima foi agredida na região da cabeça e enforcada. (Theiza Cristhine e Luciana Marschal/ Correio de Carajás)