Municípios paraenses fartos de royalties matam mais que países em guerra
O ano era 2016. Parauapebas, Marabá, Canaã dos Carajás, Paragominas e Curionópolis quase enfartaram de tanto receber Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), o popular royalty de mineração. Foram muitos milhões — uns mais, outros menos.
Mas cadê o dinheiro que estava aqui?
Com prefeituras cada vez mais ricas, esses municípios entraram em colapso no tocante à segurança pública e, principalmente, à capacidade de evitar a dizimação em massa de sua população, dia após dia mais refém da violência que assola o Pará como um todo. Em outras palavras, a falta de segurança fê-los entrar (notadamente os com mais de 100 mil habitantes) para o vergonhoso pelotão dos municípios mais violentos do país, conforme estudo assinado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgado no final da semana passada.
Os dados do estudo são de 2016, têm origem no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e apontam para o fato de que as mortes violentas registradas nos municípios brasileiros, sobretudo os paraenses, estão visivelmente atreladas a indicadores precários nas áreas de educação, habitação, pobreza, vulnerabilidade juvenil e, particularmente, à capacidade local de gerar emprego e renda a seus habitantes, ocupando-os formalmente.
Como 2016 era ano eleitoral, alguns desses municípios tiveram a oportunidade de se renovar. Outros não quiseram e optaram pelo mais do mesmo, cuja “prova dos 9” deve ter a nota revelada na pesquisa de violência a ser divulgada ano que vem. Mas nem espere diferença nos dados.
Por tudo isso, a Associação Paraense de Engenheiros de Minas (Assopem) cruzou, de maneira inédita, a taxa de homicídios indicada oficialmente pelo Ipea para 2016 com os valores dos royalties de mineração que caíram na conta corrente das prefeituras naquele ano, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). O resultado é de arrepiar: os muitos milhões arrecadados pelas prefeituras em 2016 claramente não foram aplicados em serviços essenciais básicos, com o é a segurança pública, e a moral da história, especificamente no caso do Pará, todos sabem de cor: é a falência social dos municípios, que ostentam administrações entre as mais ricas do país e, ao mesmo tempo, populações entre as mais reféns da criminalidade e em situação de pobreza. (Fonte: Assopem | Imagem ilustrativa)